Eu trabalho no setor de urgência de cardiologia da capital paraibana, João Pessoa, e a queixa mais frequente, sem dúvida, é a dor no peito.
Precordialgia de origem cardíaca é aquele aperto no peito que não tem uma localização bem definida e pode ser mais forte no lado esquerdo, as vezes sente no braço e mandíbula também. Geralmente surge depois de um esforço físico, dura em torno de 10 a 20 minutos e alivia quando retorna ao repouso. Pode ter origem na isquemia do músculo do coração. Esse sofrimento do miocárdio é diagnosticado por vezes no eletrocardiograma (ECG) adicionado das alterações das enzimas cardíacas medidas no exame de sangue.
Quando a dor está “apertando” no peito em uma localização específica, que o paciente consegue apontar no corpo, e dura várias horas ou dias, que não tem relação com esforço ou que tem hora definida do dia, por exemplo, só aparece na hora que deita na cama a noite, provavelmente não tem relação com falta de oxigenação para o coração.
Esse tipo de dor, tem muita chance de ser ansiedade!
Quando estamos preocupados com algo ou com medo e antecipamos os acontecimentos nosso corpo entra em uma situação de estresse, ativando nosso sistema adrenérgico. A liberação de adrenalina faz com que nosso cérebro entenda que estamos em uma situação de “luta ou fuga”. O sangue então é desviado para os órgãos vitais, deixando as extremidades (mãos e pés) gelados, pode-se ter sensação de tontura, náuseas e até vômitos, dor abdominal e diarreia, o coração geralmente dispara e fica-se com a sensação de que ele está querendo sair pela boca e vem a falta de ar!
LUTA OU FUGA – EFEITOS DA ADRENALINA
Sintoma
Efeito
Pupila dilatada
Aguça a percepção visual.
Músculos tensionados
prontos para qualquer ação de emergência.
Respiração
Torna-se mais profunda e rápida.
Coração disparado
Aumenta o fluxo de sangue para os órgãos vitais.
Transpiração
Acionada para que o corpo se mantenha frio.
A verdade é que os sintomas são tão orgânicos, tão reais, que sentimos na pele a certeza de que estamos infartando. Mas na verdade, está tudo bem com o coração e o pulmão. Geralmente quando percebo que o caso provavelmente é de origem emocional eu coloco o oxímetro nos pacientes e demonstro que o pulmão está em plena capacidade, sinal de que não está faltando oxigênio. Faço um ECG e, as vezes, até peço os marcadores cardíacos no exame de sangue para, com os resultados normais, acalmar os ânimos dos pacientes.
Nesses momentos sempre vejo a necessidade de achar formas de acalmar os pensamentos de quem está em crise de ansiedade. Puxo assuntos diversos, identifico o que interessa ao paciente, aprofundo os temas e tento mostrar que existe um lado positivo em tudo que acontece conosco. Busco sempre também identificar as situações que estão causando estresse, as preocupações que não estão deixando o paciente dormir, as angústias que os fazem sofrer antes mesmo de algo sério mesmo acontecer.
O que mais identifico são as preocupações exageradas sobre situações que as pessoas não têm controle sobre e que nem podem fazer algo para mudar, porque pertencem a outro alguém. Vou dar um exemplo aqui. Canso de receber avós preocupadas com o que os filhos estão fazendo, com as escolhas, o trabalho, as relações amorosas que se envolvem. Aí, sempre pergunto: “A senhora acha que a sua preocupação pode mudar a situação que você está enxergando?” ou, “Será que a senhora poderia trabalhar pelo seu filho para ele ficar em casa e descansar porque passa horas em demasia no trabalho e isso causa uma preocupação enorme em você?”… elas sempre me respondem que não. Bom, o início da conversa está dito: para a dor passar, é preciso se preocupar somente com o que você pode fazer mudar. Se a sua angústia tem a ver com a decisão de outra pessoa, é o sinal de que sua preocupação será em vão.
Nós mulheres temos costume de nos preocuparmos em demasia com a vida dos outros, pais, marido, filhos, netos, vizinhos… e isso só leva a sobrecarga cardíaca e a adoecimentos e aborrecimentos. Mas não é só o público feminino que sofre desse mal. Homens também apresentam crises de ansiedade e geralmente com eles é mais difícil de fazer entender que sim, a dor no peito pode ter origem dos pensamentos e não é nenhuma doença cardíaca.
Não consigo deixar nenhum paciente sair sem uma boa conversa e orientação detalhada. Costumo ensinar muita fisiologia e comportamento emocional, acho que faz parte de uma conduta médica mais humana. Desdenhar do outro porque ficou tão preocupado que o cérebro gerou estresse extremo a ponto de alterar as batidas do coração e a respiração é muita falta de respeito. Deixo nesse parágrafo registrada a minha indignação aos profissionais de saúde que assim o fazem, e digo ainda, esses não são raros, infelizmente.
Por fim, se você se encontra em um momento de angústia tal que sentiu essas alterações no seu corpo físico, busque ajuda profissional. Muitas vezes será necessária uma boa terapia para reorganizar os pensamentos e até uso de alguma medicação para ajudar no processo.
Ansiedade é algo tratável!
Agora se você insistir que não é esse o seu problema, mesmo com os exames todos normais, com certeza continuará a sentir esses sintomas e eles poderão se agravar. A ansiedade não tratada costuma gerar adaptações de comportamentos para reduzir os sintomas, um deles que eu trato muito é a inclusão da alimentação extremamente palatável em um ato de tentar dar um prazer ao cérebro e reduzir os pensamentos que lhes deixam tão tristes que geram sintomas físicos.
Compulsão por comida com quantidade alta de calorias, ricas em gorduras e açúcares é uma das saídas mais comuns para reduzir a ansiedade. Contudo, sabemos que este hábito causará, no passar do tempo, em um acúmulo de peso que, no futuro próximo lhe causará ainda mais tristeza. E a bola de neve só vai crescer! Come-se para aliviar a ansiedade e a ansiedade rebote aumenta por estar ficando cada vez mais acima do peso.
Definitivamente transtornos de origem emocional devem ser tratados com terapias para os pensamentos e não paleados com gordices. Mas, eu sei que a coisa não é tão fácil assim.
Então, para lhe ajudar a identificar qual é a origem da dor no peito, leia com atenção os sintomas do quadro abaixo:
Ansiedade
Dor Cardíaca
Dor no peito tem localização específicaDor aparece o dia todo ou em algum horário específico do diaSensação de falta de arSuor frio principalmente nas extremidadesMãos e pés geladosFormigamentos pelo corpoZumbido no ouvidoTonturaPalpitaçõesDor de estômago com náuseasVontade de ir ao banheiro e diarreia
Dor retroesternal com irradiação para dorso, braço, mandíbula ou epigástrioDor geralmente dura alguns minutos e alivia com repousoFalta de ar explícita PalidezSudorese intensa em fase e suor pegajoso nos membros superioresSensação de indigestão
Para concluir, não posso deixar de registrar que a dor no peito pode ainda ter outras origens: excesso de gases, lesão muscular ou articular (condrite), úlceras pépticas, problemas na vesícula ou pulmões e outros problemas cardíacos não isquêmicos.
De dica: aprenda a diferenciar as dores e sempre busque ajuda médica se estiver com dúvida e a dor não aliviar.
No mais, se ansiedade for, terapia para uma vida melhor, menos estressante, mais objetiva e sem tanto sofrimento.
Sócia e Diretora Técnica da Franquia DoctorFit, Médica e Profissional de Educação Física
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