E AÍ, O CAFÉ É MOCINHO OU VILÃO?
É raro conhecer alguém que não goste de café, principalmente aqui no Brasil. Ele costuma ser ingerido quente, em diversos momentos do dia. É o companheiro de muitas jornadas de trabalho e, em uma grande quantidade de vezes, consumido com o objetivo de ficar acordado.
Eu comecei a consumir café durante a faculdade de medicina. Na minha infância, não se oferecia café para crianças. Na casa da vó, as vezes, rolava um leite com um pouquinho de café. Tinha-se a ideia de que café poderia fazer mal para os pequenos e até diminuir o crescimento.
Outra frase comum de se ouvir é: “não pode tomar muito café porque faz mal para o estômago”, você já presenciou? “Café em excesso é ruim porque acelera o coração”, também costuma-se dizer no senso comum.
Mas, qual será a verdade sobre o café, afinal muitas substâncias que fazem parte da rotina alimentar tem ações benéficas e maléficas sobre a nossa saúde.
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Este artigo que escrevo hoje é para contar para você sobre uma recente pesquisa publicada no mais renomado jornal de medicina do mundo, o “New England”. Uma revisão de Rob m. van Dam e colaboradores de 2020 que buscou copilar todo o conhecimento atual sobre os princípios psicoativos da cafeína e suas relações com a saúde.
Fazendo um breve destaque, a cafeína pode ser vista como uma substância psicoativa, ou seja, empregada com objetivo de produzir alterações nas sensações ou estado emocional. O seu efeito será de acordo com as características individuais, da quantidade de cafeína ingerida, das circunstâncias em que está sendo consumida, bem como, a depender a exposição prévia ao composto. Tomadores inveterados de café, por exemplo, podem consumir altas doses de cafeína a noite e ainda permanecer com sono e sensação de vigília reduzida, enquanto outros, taquicardicos com o consumo de uma xícara de café expresso.
Quimicamente o café é uma metilxantina, após ingerido a sua absorção é completa em mais ou menos 45 minutos, e no sangue, seu pico se dá após 15 minutos até duas horas. A cafeína é capaz de ultrapassar a barreira hematoencefálica e provocar alterações neuroendócrinas. No fígado é metabolizado pelo citocromo P-450. O uso de anticoncepcionais orais pode duplicar o tempo de ação da cafeína no metabolismo, o que também acontece durante a gestação, especialmente no terceiro trimestre quando a cafeína pode ficar disponível por mais de 15 horas na corrente sanguínea.
Mas, é importante destacar aqui que a metabolização da cafeína ainda é diferente para cada pessoa, principalmente se você é um consumidor assíduo de café.
Assim como o café outros alimentos como vários tipos de chás, cacau, erva mate, derivados do guaraná, também causam alterações metabólicas e merecem atenção da ciência. Abaixo, destaco a quantidade de cafeína em bebidas que estão presentes em nosso dia a dia.
Tabela de comparação:
Produto | Quantidade total | mg de cafeína |
Achocolatado | 220 ml | 5 mg |
Chá verde | 240 ml | 25 mg |
Refrigerante de cola | 355 ml | 36 mg |
Chá mate (chimarrão) | 240 ml | 47 mg |
Café instantâneo | 240 ml | 57 mg |
Energéticos | 250 ml | 76 mg |
Café expresso | 30 ml | 77 mg |
Café coado (passado) | 240 ml | 108 mg |
Entre os benefícios do consumo do café, destacados nesta pesquisa estão:
– Melhora da performance mental e estado de vigília;
– Pode reduzir o risco de episódios depressivos;
– Contribui junto com outros compostos para o tratamento da cefaleia e outros tipos de dor;
– Pode reduzir o risco de desenvolver a doença de Parkinson;
– Pode reduzir o risco de fibrose hepática, cirrose e câncer;
A parte ruim do consumo é que, segundo os autores, pode contribuir para os casos de insônia e ansiedade,
– No primeiro momento aumenta a pressão arterial e a sensibilidade musculoesquelética à insulina, mas a tolerância será desenvolvida com a ingesta habitual.
– Altas doses podem causar efeitos diuréticos;
– Pode reduzir o crescimento fetal e aumentar o risco de abortamentos.
Bom, e quando devemos consumir por dia para termos efeitos benéficos?
Os estudos têm mostrado que o consumo de café não aumenta o risco de doenças cardiovasculares ou neoplasias. Na verdade a ingestão de 3 a 5 xícaras de café por dia está associada a redução de várias doenças crônicas.
Por outro lado, o consumo exacerbado de cafeína, mais de 400mg dia, por causar efeitos adversos. Para gestantes e lactantes a sugestão máxima para consumo diário é de 200 mg.
Apesar dessa sugestão de valores de consumo, há de se levar em consideração as variações metabólicas individuais.
Enfim, as evidencias atuais não recomendam o uso da cafeína como suplemento para prevenção de doenças, porém, o consumo moderado desse composto deve fazer parte da rotina das pessoas que buscam um estilo de vida saudável.
Sócia e Diretora Técnica da Franquia DoctorFit, Médica e Profissional de Educação Física
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