Se você foi infectado pelo SARS-COVID e desenvolveu a doença, pode estar se perguntando se pode e quando deve retomar, ou não, as atividades físicas corriqueiras e o treinamento físico de moderada e alta intensidade. Este artigo vai direcionar você sobre quais cuidados devem ser tomados no pós-Covid em relação ao exercício físico.
Cientistas pelo mundo todo têm estudado o exercício como fator preventivo para o desenvolvimento de diversas doenças crônicas e também agudas como o COVID. Já se tem evidências de que ele é uma ferramenta importante no desenvolvimento da imunidade. Não se sabe ainda, exatamente, os mecanismos através dos quais o exercício interfere positivamente, reduzindo o mecanismo de cascata inflamatória e protegendo nosso corpo de doenças. Porém, o Colégio Americano de Ciências do Esporte (ACSM) através do projeto “Exercise is Medicine”, tem acumulado evidências de que o exercício é remédio para o tratamento e prevenção de diversas doenças.
A infecção pelo SARS-COV2 é multifacetada, diferente em cada organismo e com desfechos ainda não bem definidos. Especula-se que pode haver uma relação genética que em alguns indivíduos protege do desenvolvimento de formas graves e de outros proporciona sintomas agressivos e evoluções rápidas. E, ainda, já se sabe que após passar pelo ciclo do vírus, mesmo que de forma branda, muitas pessoas ainda apresentarão sintomas por vários meses. A este fato está se nomeando “Síndrome pós COVID-19”. Entre os sintomas persistentes temos: fadiga aos pequenos esforços, fala de ar, tosse seca persistente, dores articulares, musculares e no peito, alterações de ritmo cardíaco, glicemia e pressão arterial, perda ou disfunções do olfato e paladar, problemas de memória, concentração e sono, erupções cutâneas ou queda de cabelo.
Embora saibamos que os pulmões são o órgão alvo da infecção por SARS-COV2, o vírus é capaz de se acumular em diferentes órgãos, incluindo o coração, vasos sanguíneos, rins, intestino, cérebro e as terminações nervosas musculares. Inclusive, um recente estudo realizado com eletroneuromiografia e biopsia da musculatura intercostal encontrou uma elevada concentração do vírus nessa localização, o que dificulta o impulso nervoso, bem como fadiga essa musculatura, acarretando em uma sensação de falta de ar, que na verdade é uma dificuldade de expansão da caixa torácica (devido ao acometimento da musculatura que auxilia na respiração) e não, efetivamente, a disfunção da troca gasosa.
Por essas e outras situações relevantes da infecção pelo SARS-COV2, alguns ajustes serão necessários para o treinamento físico pós covid-19.
Segue abaixo as recomendações atuais:
- Em curso do quadro viral não realizar esforços físicos de moderada ou alta intensidade, permanecendo em repouso domiciliar, independente da gravidade dos sintomas.
- Com sintomas brandos limitar-se a caminhadas leves com períodos de descanso, em domicílio, nos primeiros dias e, se boa evolução, a passar para exercícios de mobilidade articular, e aumento do tempo de caminhada. A partir do 10º dia, se permanência dos sintomas leves, retomar a prática de exercício físico com supervisão do profissional de educação física.
- Com sintomas moderados (presença de tosse, fadiga, falta de ar ou febre), não realizar esforços físicos, restringindo-se às atividades de higiene pessoal e demandas de baixa energia em domicílio. Qualquer sinal de piora no quadro necessitará de avaliação médica em unidades hospitalares. Se houver evolução gradativa para melhora, após uma semana do final dos sintomas, retomar com os esforços de baixa intensidade, preferencialmente com exercícios respiratórios, ativação muscular e aeróbicos leves (caminhada, corrida ou exercícios aquáticos).
- Com sintomas graves [pacientes que necessitaram de oxigenioterapia e internação hospitalar] deverão retornar às atividades de baixa intensidade somente após 30 dias do final dos sintomas e após reavaliação médica. Os exercícios deverão ser progressivos em intensidade e volume, respeitando as condições de base e os sintomas persistentes. Não se deve voltar a realizar esforços físicos sem avaliação médica e sem acompanhamento de um profissional.
- Para indivíduos com altos níveis de exercício físico, prévios à infecção, independente da gravidade dos sintomas, é indicada avaliação médica com cardiologista, realização de exame de esforço físico supervisionado (teste ergométrico ou ergoespirométrico), e retorno ao treinamento com redução de 30% do volume e 50% da intensidade em que se encontrava antes da doença. A progressão do treinamento também deve ser realizada em uma escala mais branda do que de costume.
Estas são algumas considerações importantes que devem ser levadas em consideração.
Forte abraço a todos.
Sócia e Diretora Técnica da Franquia DoctorFit, Médica e Profissional de Educação Física
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